Por Geralda Godinho*
O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, representa uma ocasião significativa para recordarmos a luta histórica da população negra contra a opressão e sua busca incessante por igualdade. No entanto, mesmo após 135 anos da abolição da escravatura no Brasil, o país continua enfrentando desafios persistentes relacionados à justiça social, especialmente no contexto das relações de trabalho. Este dia não apenas celebra a rica herança cultural afro-brasileira, mas também nos convida a uma reflexão profunda sobre as condições contemporâneas que, em alguns aspectos, ainda ecoam o passado sombrio da escravidão.
Embora os grilhões físicos da escravidão tenham sido rompidos, persiste uma forma traiçoeira de opressão nos dias de hoje. As marcas desse período tenebroso se manifestam atualmente no que podemos classificar como escravidão moderna, trazendo à tona inúmeros desafios às relações de trabalho, cada vez mais injustas e desumanas, nas quais trabalhadores são submetidos a condições degradantes e explorados economicamente. Este fenômeno não conhece barreiras raciais, afetando uma gama diversificada de trabalhadores; no entanto, a população negra muitas vezes é desproporcionalmente afetada, destacando as desigualdades profundas e o racismo estrutural existente.
Um exemplo disso ocorreu no segundo trimestre de 2023, quando uma pesquisa elaborada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) investigou os obstáculos enfrentados pela população negra ao tentar se integrar ao mercado de trabalho no país. O estudo apontou que, apesar de representar a maior parcela da população, correspondendo a 56,1% do povo brasileiro, apenas 2,1% das mulheres negras e 2,1% dos homens negros desempenham funções de direção e gerência no mercado de trabalho. De acordo com o levantamento, os negros enfrentam condições de inserção desfavoráveis e, em geral, acabam ocupando posições mais precárias, enfrentando maiores desafios para progredir profissionalmente. Esse abismo é ainda maior no que se refere à população negra feminina.
Infelizmente, não há o que comemorar, pois a escravidão não acabou de fato. Devemos confrontar a dura realidade de que, em pleno século XXI, muitos ainda enfrentam condições laborais que lembram a exploração de séculos passados. A exploração persistente da classe trabalhadora no Brasil é reflexo de uma ocupação laboral cada vez mais precarizada, na qual os trabalhadores enfrentam não apenas condições difíceis, mas também humilhação. Essa dinâmica tem raízes profundas na cultura escravocrata, que, embora tenha libertado os negros da escravidão, persiste na exploração de sua mão de obra sem a devida compensação. Nesse cenário, a senzala apenas mudou de lugar, e, se não houver resistência, o patrão ainda tem o poder de açoitar aqueles que trabalham.
No Dia da Consciência Negra, a mensagem que deixo é: a verdadeira liberdade só será alcançada quando todos os trabalhadores estiverem livres da opressão. É hora de unirmos forças, erguermos as vozes contra as injustiças e lutarmos coletivamente para criar um futuro onde cada trabalhador seja tratado com dignidade e respeito.
O racismo estrutural está enraizado em várias instituições e essa forma de discriminação sistêmica perpetua a desigualdade em diferentes aspectos da vida, amplificando as barreiras que a população negra enfrenta diariamente.
* Geralda Godinho é secretária-geral do Sindicom-DF