A tentativa de normalizar as diversas violências contra as mulheres é histórica no Brasil, mas recebeu reforço com a chegada de Jair Bolsonaro e sua equipe ao governo federal. Para dialogar com a população do Distrito Federal sobre os direitos das mulheres, o dever do governo em desenvolver políticas públicas que assistam às mulheres e a obrigação do Estado em ser laico (imparcial quanto às questões religiosas), diversas organizações feministas, entre elas a CUT-DF, realizaram ato nesta segunda-feira (24), na rodoviária do Plano Piloto.
A ação, realizada nas primeiras horas da manhã na plataforma inferior da rodoviária, estendeu um varal com cartazes com frases como “Exigimos o direito ao aborto legal e seguro” e “Nós mulheres não somos culpadas pela violência que sofremos. A culpa é do machismo e do machista. A culpa é do patriarcado”. Com o auxílio de uma caixa de som, a secretária de Mulheres Trabalhadoras da CUT-DF, Thaísa Magalhães, lembrou do caso da menina de 10 anos que foi estuprada pelo próprio tio, engravidou, e sofreu forte pressão de fanáticos religiosos, respaldados pela omissão do governo, para não interromper a gravidez, colocando em risco a própria vida.
“A sociedade está tão doente que não se indigna mais quando vê que uma criança é estuprada e exposta. Isso é reflexo de um governo que trata as mulheres com descaso, que acha normal o estupro, a violência, o assassinato; uma cultura de ódio, que vem adoecendo cada vez mais a sociedade. Por isso, viemos conversar com a população sobre como construir uma sociedade que não é doente, o que passa primordialmente por pensar em qual é a situação das mulheres no Brasil, em pensar que não é normal uma mulher apanhar dentro de casa; passa por se indignar quando vê uma notícia de uma criança estuprada por alguém da família”, dialogou a sindicalista.
NOTA DA CUT | Não queremos ajuda, queremos direitos!
Entre olhares de curiosidade, manifestações de apoio e semblantes que demonstravam repúdio à ação, Thaísa Magalhães ainda disse que “construir uma sociedade que não seja doente significa lutar pela equidade de direitos entre homens e mulheres; passa por garantir às mulheres o direito de tomar a decisão sobre seu corpo e sua vida e ter a segurança que o Estado garanta essa decisão. Passa por existir aparelhos públicos que garantam que a mulher tenha a quem recorrer em caso de violência”. “Não é normal uma mulher ser agredida”, reforçou com firmeza para quem estava nas filas dos ônibus ou passava pelo local.
Segundo pesquisa recente do Datafolha, 42% dos homens acham que mulher que se dá ao respeito não é estuprada, em um país em que uma mulher sofre violência sexual a cada 7 minutos e 180 estupros são realizados por dia; onde a cada hora, 4 meninas de até 13 anos são estupradas. Ainda de acordo com a pesquisa, 33,3% das pessoas acredita que, nos casos de estupro, a vítima é culpada.
Fonte: CUT-DF