O Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher surge em 1980, quando mulheres ocuparam as escadarias do Teatro Municipal, em São Paulo, para protestar contra o aumento dos crimes às mulheres em todo o país. Mais de quatro décadas depois, o cenário segue estarrecedor. Segundo dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), somente no primeiro semestre de 2022, a central de atendimento do órgão registrou 31.398 denúncias e 169.676 violações envolvendo a violência doméstica contra as mulheres.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2021, 1.340 mulheres foram mortas pelo simples fato de serem mulheres. O estudo mostra que, no Brasil, uma mulher é vítima de feminicídio a cada 7 horas. Significando dizer que 3 mulheres morrem todos os dias somente pelo fato de serem mulheres.
Os números são altos e vêm acompanhados pelo crescimento de outros tipos de violência, como lesão corporal dolosa, ameaças, estupros e emissão de medidas protetivas.
O anuário desenhou o perfil desses crimes e mostrou que quase 82% dos feminicídios são cometidos pelo companheiro ou ex-companheiro da vítima. Ainda de acordo com o estudo, a presença de arma de fogo na residência aumenta o risco da mulher em situação de violência doméstica ser morta por seu parceiro.
Infelizmente, o Brasil ocupa o 7º lugar no ranking elaborado pela Organização Mundial da Saúde, dos 84 países que mais matam mulheres.
Mulheres no alvo: o efeito da agenda pró-armas sobre a vida das brasileiras
Desde que Jair Bolsonaro (PL) assumiu a Presidência em janeiro de 2019, o Governo Federal editou mais de 30 decretos, portarias e projetos de lei alterando as regras de acesso e controle de armas de fogo, fazendo explodir a quantidade de civis armados. O resultado? Mais de um milhão de novas armas entraram em circulação e o número de cidadãos com certificado de registro de porte cresceu 474% durante o governo de Bolsonaro, segundo dados do Anuário Brasileiro da Segurança Pública publicado em junho deste ano.
Na contramão da facilitação ao acesso a armas de fogo, os investimentos em políticas públicas para combater a violência de gênero nunca foram tão baixos quanto na administração atual. Bolsonaro cortou 94% da verba para combate à violência contra mulheres.
Nos orçamentos de 2016 a 2019 – que não foram enviados por Bolsonaro – os recursos para combater a violência contra mulheres eram de R$ 366,58 milhões. Com o Bolsonaro, esse valor caiu para R$ 22,96 milhões.
Um presidente que odeia as mulheres
Neste Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher, vale ressaltar o fato de que o presidente da República odeia as mulheres e deixa isso bem claro em seu comportamento misógino e suas políticas públicas excludentes.
Bolsonaro fechou a Secretaria de Políticas para as Mulheres criada por Lula em 2003, tirou todo o recurso das Casas da Mulher Brasileira, implantadas por Dilma, tentou vetar lei que previa distribuição de absorventes e segue sendo violento com jornalistas mulheres sem o menor pudor. Isso para citar só algumas de suas posturas anti-mulher, porque seu histórico de agressões físicas e morais contra mulheres é bastante longo.
Mesmo com o crescimento de agressões às mulheres no Brasil, Bolsonaro cortou o investimento para o combate à violência contra mulheres, além de torná-las as principais endividadas em uma economia que se encontra em frangalhos.
Vamos recordar algumas das agressões cometidas por Bolsonaro contra mulheres:
27 de agosto de 1998 – Dá murro na cabeça de uma mulher
Durante campanha eleitoral para se reeleger deputado federal, Bolsonaro esmurrou por trás a cabeça de Conceição Aparecida, então funcionária da Planajur, empresa de consultoria jurídica que prestava serviços para o Exército. Conceição discutiu com uma apoiadora de Bolsonaro e acabou esmurrada pelo então deputado. Além disso, o dono da empresa, Jorge dos Santos, contou ter sido agredido por seguranças. Na época, o Jornal do Brasil noticiou a agressão, e o próprio Bolsonaro admitiu ao jornal ter cometido a violência
Março de 2011 – Ofende a cantora Preta Gil
Bolsonaro participava de um programa de tevê no qual respondia perguntas enviadas por diferentes personalidades. A cantora Preta Gil havia gravado a seguinte questão ao então deputado federal: “Deputado Jair, se seu filho se apaixonasse por uma negra, o que você faria?”.
Bolsonaro respondeu: “Ô, Preta, eu não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. E meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como, lamentavelmente, é o teu”.
Julho de 2011 – Ex-mulher afirma ter sido ameaçada de morte por Bolsonaro
Em 2011, a Embaixada do Brasil na Noruega entrou em contato com Ana Cristina Valle, mãe do quarto filho de Bolsonaro, Jair Renan. O vice-cônsul (VC) da representação questionou por que Ana Cristina havia se mudado para o país europeu com o filho, então adolescente, sem uma autorização expressa do pai. Ela, então, disse que havia sido ameaçada de morte por Bolsonaro e questionou se poderia pedir asilo na Noruega. A afirmação de Ana Cristina foi registrada em uma comunicação diplomática e noticiada por diferentes jornais, como a Folha de S. Paulo e o Correio Braziliense.
Dezembro de 2014 – “Ela não merece ser estuprada porque é muito feia”
Em 9 de dezembro de 2014, no Plenário da Câmara, Jair Bolsonaro cometeu um ataque contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS) e todas as mulheres, pelo qual acabou condenado, pagou multa e teve de pedir desculpas publicamente.
Dezembro de 2014 – Diz achar justo que mulheres ganhem menos que os homens porque engravidam
Na mesma entrevista ao jornal Zero Hora, em 2014, Bolsonaro disse achar justo uma mulher ganhar menos que um homem para fazer o mesmo trabalho. O motivo seria o de que uma mulher pode engravidar e tirar licença maternidade. “Eu sou um liberal, se eu quero empregar na minha empresa você ganhando R$ 2 mil por mês e a Dona Maria ganhando R$ 1,5 mil, se a Dona Maria não quiser ganhar isso, que procure outro emprego! (…) Eu que estou pagando, o patrão sou eu”, disse. No mesmo ano, ao ser entrevistado na Rede Tv!, Bolsonaro voltou a ser questionado sobre o tema e disse que, se fosse empresário, “não empregaria (uma mulher) com o mesmo salário”.
Abril de 2017 – Diz que teve uma filha após ter tido quatro filhos porque deu “uma fraquejada”
A fala, que ocorreu durante palestra no Clube Hebraica, foi a seguinte: “Fui com os meus três filhos, o outro foi também, foram quatro. Eu tenho o quinto também, o quinto eu dei uma fraquejada. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio mulher”.
8 de março de 2019 – Ri do fato de ter 20 ministros e só duas ministras
Foi só se tornar presidente que Bolsonaro voltou a se mostrar como realmente é. Desde os primeiros meses de governo, ele proferiu incontáveis frases machistas e preconceituosas, sendo acompanhado nesse comportamento por alguns de seus ministros. Tanto que, em junho de 2021, a Justiça Federal ordenou que a União pagasse R$ 5 milhões de indenizações por falas machistas de Bolsonaro, do ministro da Economia, Paulo Guedes, e da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.
Uma das primeiras vezes que Bolsonaro ofendeu as mulheres após se tornar presidente foi justamente no Dia Internacional da Mulher, quando afirmou: “Pela primeira vez na vida o número de ministros e ministras está equilibrado em nosso governo. Temos 22 ministérios, 20 homens e duas mulheres”.
Abril de 2019 – Faz apologia ao turismo sexual no Brasil
Nessa ocasião, Bolsonaro se disse contra a vinda de turistas gays para o Brasil e emendou: “Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. Além de homofóbica, a frase foi condenada como extremamente machista. Bolsonaro mostrou completa insensibilidade à situação das brasileiras vítimas da exploração sexual causada por esse tipo de turismo. Em resposta estados brasileiros lançaram campanhas contra a exploração sexual.
2020 e 2021 – Volta seu ódio a mulheres que trabalham na imprensa
Nos segundo e terceiro anos de governo, Bolsonaro continuou a se mostrar desrespeitoso com as mulheres de maneira geral, mas chama a atenção o fato de ele ter voltado seu ódio para as jornalistas, numa clara tentativa de inibir o exercício da imprensa no país. Veja algumas dessas agressões às profissionais de mídia:
– Em fevereiro de 2020, rebateu denúncia da jornalista Patrícia Campos Mello, sobre possíveis irregularidades na sua campanha eleitoral, dizendo que a profissional “queria dar o furo”. “Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo”, disse a apoiadores no cercadinho em frente ao Palácio da Alvorada.
– Em 21 de junho de 2021, em Guaratinguetá, Bolsonaro mandou a repórter Laurene Santos, da TV Vanguarda, afiliada da Globo, “calar a boca”. Isso só porque a jornalista questionou o fato de ele ter chegado ao local sem usar máscaras, conforme exigia uma lei do estado de São Paulo, por causa da pandemia de Covid-19.
– Quatro dias depois, Bolsonaro perdeu o controle ao ser indagado sobre o atraso de vacinas contra a Covid-19 e o escândalo dos contratos do imunizante indiano Covaxin. O presidente mandou Victoria Abel, da Rádio CBN, voltar para a faculdade, e que ela “deveria na verdade voltar para o ensino médio, depois para o jardim de infância e aí nascer de novo”. Em outro momento, disse: “Você está empregada aonde? (sic)”. Na mesma ocasião, aos gritos, e em tom ameaçador, dirigiu insultos à Adriana de Luca, da CNN Brasil: “Pare de fazer perguntas idiotas”.
– Durante conversa com apoiadores na entrada do Palácio Planalto, Jair Bolsonaro xingou a jornalista Daniela Lima, da CNN Brasil, de “quadrúpede”.
Fonte: Instituto Patrícia Galvão; Correio Braziliense; com o apoio de Pulitzer Center for Crisis Reporting